Capítulo I: Pensamentos
Sete pecados mortais
Sete maneiras de vencer
Sete caminhos sagrados para o inferno
E a sua jornada começa
Sete declives
Sete malditas esperanças
Sete são seus fogos ardentes
Sete são seus desejos…
* - Moonchild - Iron Maiden -*
Mais uma linda tarde, o sol esta quase se pondo. Estou sentado no mesmo banco que por décadas tenho o prazer de observar a praia, o horizonte tingido com a cor alaranjada do sol poente.
-- Olha se não é o meu amigo fiel!
-- Como está se sentindo hoje Paulo?
-- Muito bem na verdade!
-- Paulo não acha que deva abrir seu coração novamente? Você é jovem, melhor dizendo, tem um espírito jovem e nunca é tarde para recomeçar!
-- Não sei meu caro, ainda dói um pouco esse velho coração!
-- Pense no que te falei, você passou por muita coisa na sua vida e superou todas elas, com certeza se você permitir que alguém se aproxime além dessa barreira, a felicidade irá transformar sua dor! Paulo nos vemos quando quiser conversar, estarei sempre pronto a atender um amigo!
-- Obrigado e vá com Deus! (Risos)
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Como é difícil pensar que daqui a pouco estarei em um programa de televisão contando a história da minha vida! Lembrar cada detalhe, cada momento, dor, sofrimento, angústia…
Hoje ainda tenho um encontro com o Sandoval para definir as livrarias que estarei fazendo as sessões de autógrafos. Quando foi que minha vida começou a mudar? Não é fácil puxar rapidamente as lembranças quando se tem sessenta anos. Sinto falta da casa onde cresci, bons tempos. Uma casa simples, passamos dificuldades financeiras, mas foi onde fui feliz, sim, muitas lembranças felizes e poucas tristezas.
Agora minha mente e minhas lembranças me transportam para a época que as coisas começaram a mudar na minha vida, agora vejo com clareza, eu andando após sair do trabalho, com a cabeça longe perdida em pensamentos, as pessoas andando tão depressa e esbarrando em mim. Estou andando sem muita pressa, porque o caminho até a minha casa é muito longo, não tenho dinheiro para o ônibus, na verdade tenho, mas usei para comprar algumas coisas que me faltam em casa. Quarenta e cinco minutos depois e muito suado estou chegando… carros passam por mim, queria ter um… Pra que? Você não sabe dirigir. Verdade não sei dirigir…
Uma hora depois chego em casa, um pardieiro formado por um quarto, cozinha apertada, banheiro pequeno e só… Ah, as telhas de brasilite, minha casa está um “forno”, o sol castigou durante o dia e sem nenhuma janela ou porta aberta, isso aqui está um inferno de quente. Abro a porta e as janelas para amenizar o calor, vou tomar um banho, ia tomar, pois a água está quente, muito quente, seja do chuveiro ou das torneiras. Abro a geladeira, não tem quase nada, mas tem água, sim tem água que nem em uma maldita gaiola de periquito: Água e jiló!
Deito em uma cama de solteiro que ganhei da minha mãe, assisto um pouco de televisão antes de dormir, que calor, mas meus pensamentos voltam no tempo. Estou sozinho, sou sozinho mesmo com muitas pessoas ao meu redor. Meu melhor amigo… meus pensamentos, que me censuram a todo momento. Durmo.
Lembro agora como era irritante o barulho do maldito celular tocando as sete da manhã. O que faço? Banheiro, café, banheiro, roupas, carteira, casa da minha mãe, marmita e andar muito de novo até o trabalho. Que merda de vida as vezes pensava, mas tem gente que está na pior, deveria agradecer a… quem? Alguns diriam deus, não eu, tento me livrar dessa força de expressão que sempre me enojava.
Aqueles dias eu caminhava até o trabalho pensando em como cheguei ao ceticismo total quanto aos deuses e as pessoas.
Acho que levei tanto tempo quanto deveria levar, lembro que aos quatro anos minha mãe me levava a igreja, sim, a igreja( um sorriso zombeteiro passa em meus lábios), ha ha ha, quem diria o ateu convicto Paulo de Tarso já frequentou igrejas, muitas delas por sinal, tantas religiões quanto me lembro, todas proclamando um caminho através de seus deuses, seus livros sagrados, e nenhuma conseguiu me segurar ou adentrar o meu inquieto coração.
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Décadas atrás…
-- Paulo bom dia!
-- Bom dia! Você não me é estranho, de onde lhe conheço?
-- Só você mesmo Paulo!(Risos), você sempre esquece de mim! Te conheço desde menino, quantas vezes conversamos, me lembro quando você quebrou o braço ao cair da bicicleta…
-- Verdade, lembro desse dia, mas vagamente de você!
-- Faz um bom tempo que não conversamos! Está um homem agora, trabalhando, já está casado?
-- Não me casei! Desculpe perguntar, qual é o seu nome?
-- Ah, eu que peço desculpa, meu nome é Abner! Já me fez essa pergunta antes(risos), mas tudo bem! Paulo te vejo por aí… Foi muito bom te rever!
-- Também foi bom te rever(não lembro bem quando o vi), grande abraço!
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Disse o néscio no seu coração: Não há Deus.
Têm-se corrompido, abomináveis são as suas obras, não há ninguém que faça o bem.
Salmos 14:1
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