domingo, 9 de março de 2014

O Filho Pródigo - Capítulo V: Maria Madalena



Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.

I Coríntios Capítulo 13, Versículos 1-2-13






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O nome da mulher por quem me apaixonei era uma afronta as minha crenças, seu lindo nome era Maria, Maria Madalena, até hoje acho engraçado como nos conhecemos: Em frente a uma igreja!



Essa igreja ficava em uma praça no centro da cidade onde eu morava. Era final de semana, não trabalhava, fui as compras, quando passei em frente a igreja, vi uma barraca que vendia salgados, sucos e doces. Estava com fome e os salgados pareciam muito apetitosos. Eram duas mulheres que atendiam nessa barraca, uma notadamente estava na casa dos cinquenta anos e a outra era uma linda jovem que não devia ter mais de 25 anos, cabelos compridos pretos, pele branca, e um sorriso que enche meu coração de alegria até hoje depois de tantos anos.



Sentei na escadaria da igreja, conversando com a mulher mais velha, que vim saber ser sua mãe, uma evangélica fervorosa, mulher de fibra que nunca fugiu ao trabalho e criou sua única filha sozinha trabalhando por conta própria desde que seu marido havia partido desta para uma melhor, segundo ela.



A jovem era tímida, sempre que me olhava sorria, e meu coração batia mais rápido. Desde então, eu voltava todo fim de semana para lanchar naquela praça. Começamos a conversar bastante e tomei a liberdade de convidá-la para sair, pedindo a permissão da mãe dela, é claro, o que deixou boa impressão na minha futura sogra.



Em um domingo ensolarado fomos passear em um parque que na parte mais alta, tinha um velho forte, que a muitos séculos atrás serviu de fortaleza para defender nosso território contra os invasores europeus. Uma vista espetacular do alto de seus setecentos metros, mas nada era mais belo que o olhar e o sorriso de Maria. Conversamos sobre muitas coisas e fiquei sabendo para minha surpresa que ela era “pagã”, ou seja, não tinha sido batizada no cristianismo, que adorável, finalmente uma mulher perfeita(risos). Maria Madalena acreditava em um Deus, ela não acreditava nas religiões, dizia que elas afastavam o homem do ser divino com seus dogmas e doutrinas falsas, Maria era por se dizer Agnóstica, uma pessoa que acredita e também não acredita na existência de deus, mas precisamente esse deus que é propalado aos quatro ventos, ela acreditava que o ser divino era mais do que podemos supor, algo além de nossa compreensão, imensurável, inefável e o ser humano caiu em desgraça por querer entender e acabou criando suposições errôneas que causou todo o caos que conhecemos.



Suas palavras soavam como música aos meus ouvidos, tudo que ela falava eu tomava como dito por um anjo, se existissem é claro.



Aquele dia foi mágico, nosso primeiro beijo foi meio atrapalhado, nenhum dos dois sabendo bem o que fazia, mas nunca será esquecido enquanto meu coração bater.



Em pouco tempo, fui até sua mãe e pedi para namorar Maria em casa, podem até dizer que isso é antiquado, mas fiz isso com todas as minhas namoradas, e até hoje acho correto.



Por incentivo meu, ela começou a estudar e logo entrou na faculdade de filosofia. Comecei a fazer História das religiões a distância, enquanto estava terminando a minha faculdade de História presencial. Eu tinha uma pequena casa, que havia financiado com meu novo emprego, e comecei a pensar seriamente em me casar com aquela maravilhosa mulher.



A cada dia eu pensava que minha vida tinha chego ao ápice, um bom emprego, dinheiro que dava para fazer muitas coisas que sonhava, uma namorada inteligente que sorria das minhas piadas infames a respeito das religiões.



As coisas começam a se encaixar, e quando você está feliz, questões filosóficas, como de onde eu vim e para onde vou, não tem a menor importância.



Procurei respeitar as crenças de minha sogra, assim como fazia com as da minha mãe. Fui algumas vezes a igreja, a convite da minha sogra, não me importava de ser abençoado por ela e pelo pastor. As conversas eram agradáveis, e a cada dia se distanciava desse tema religioso, o que era perfeito para mim. Aos poucos, me senti parte daquela família, que comecei a pensar em uma coisa…



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-- Pai, por quê o interesse no Paulo?

-- Sempre tive apreço por esse rapaz, seus caminhos tem tantas ramificações, quero saber o que ele será capaz de fazer…

-- Infelizmente nada de bom, o senhor mais do que ninguém o sabe….

-- Não se esqueça, meu filho, que todos temos o livre arbítrio, o que você vê agora, não passa de uma cortina de fumaça, um sonho, por assim dizer. O futuro dele pode parecer tenebroso, mas ele pode mudá-lo a qualquer momento, não é essa a beleza da vida?

-- Tenho muito que aprender com o senhor pai. Vou falar com algumas pessoas, até mais tarde.

-- Até mais Henri.


Abner caminha pela praia, vendo seu filho se afastar em direção ao calçadão, rumo ao encontro de jovens delinquentes. Abner sente um tremendo orgulho quando vê o quanto Henri é dedicado ao trabalho social. Ele sente em seu íntimo que fez um bom trabalho como pai, e que suas obras estará em boas mãos.



Abner fica sorrindo, sua atenção é desperta, por uma voz conhecida chamando o seu nome, ele se vira e vislumbra Paulo sentado no velho banco que fica de frente para o mar. Abner acena para Paulo e caminha em sua direção mostrando satisfação em vê-lo.



-- Meu querido Paulo, que bom revê-lo.


-- Digo o mesmo Abner, senta aqui, quero lhe contar muita coisa…


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